Por Divulgação 19-05-2016 | 00:00:00
Um evento reuniu travestis e transexuais no auditório do Hotel Curi, nesta quinta-feira (19/5/2016), em Pelotas. “Transcidadã – o encontro” buscou discutir os direitos e fortalecer os vínculos entre os integrantes mais vulneráveis do grupo Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT). “As pessoas enfrentam o primeiro preconceito quando decidem assumir sua orientação sexual – ser gay ou lésbica. O segundo preconceito, bem mais pesado, é quando decide assumir sua identidade de gênero – travesti ou transexual”, explica o secretário da ONG Vale a Vida, organizadora do encontro, Juliano Machado. O evento, que teve o apoio da Secretaria de Saúde (SMS), reuniu profissionais da saúde, educadores, advogados, psicólogos e assistentes sociais da região para discutir ações de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis (DST) e Aids, e direitos comuns, que muitos não sabem que possuem. Discriminados nos locais de trabalho, na sociedade e até mesmo pela própria família, eles aprendem que “só no grito” conseguem garantir seus direitos. “Tem gente com formação... Ensino fundamental, ensino médio e até universitários. Mas o que ainda nos garante é o concurso público e mesmo assim nos colocam em trabalho administrativo, em um canto escondido”, diz Juliano, para mostrar porque muitas acabam recorrendo à prostituição – fator que aumenta ainda mais sua vulnerabilidade. A agressão a quem “faz ponto” é bastante comum. Recentemente uma das meninas foi baleada por uma discordância no preço do programa. Os dados oficiais não mostram essas agressões e muitas acabam desistindo de registrar ocorrência por saber de todas as dificuldades e constrangimentos que passarão até a conclusão do processo. Juliano, ao lado de Jerci Cardoso, faz o chamado “trabalho de formiguinha”: visita diariamente os profissionais do sexo. Nos rápidos momentos em que fica com eles, entre um cliente e outro, entregam camisinhas, lubrificante e falam sobre prevenção, teste e tratamento de doenças e algum direito, como o uso de nome social, de contribuir com o INSS ou de cirurgia de adequação (conhecida como cirurgia de mudança de sexo). A coordenadora de Diversidade Sexual da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos, Marina Reidel, diz que eventos como este demarcam a discussão de políticas específicas, emponderam os transexuais e travestis e ajudam a transformá-los em sujeitos ativos de inclusão, além de fortalecer os vínculos e o diálogo transversal com agentes de saúde e educação, por exemplo. Fortalecimento de vínculos, aliás, parece ser palavra de ordem, repetida também pela superintendente de Ações em Saúde da SMS, Eliedes Ribeiro, que enfatiza a importância da parceria entre o poder público e a sociedade civil na prevenção e garantia de direitos. A superintendente avalia que encontros como esses fortalecem os vínculos, pois as pessoas percebem que a luta é muito maior, que todos os municípios têm dificuldades, que o preconceito não é local. Num comparativo entre o trabalho desenvolvido em diferentes lugares, o secretário adjunto de Livre Orientação Sexual de Porto Alegre, Marcio Battanoli, revelou-se impressionado com a realidade de Pelotas. “Enquanto em Porto Alegre o nosso trabalho é mais forte na proteção, em Pelotas é na prevenção. Aqui há mais respeito à dignidade humana”. Ele explica que lá os profissionais do sexo são vítimas de violência física em seu cotidiano, inclusive de quem se compromete em protegê-los – os cafetões. Como em Pelotas a “cafetinagem” se resume, basicamente, à hospedagem, as entidades de proteção conseguem trabalhar mais na prevenção e garantia de direitos. O encontro contou com diferentes atores do movimento e de diversos lugares – além de Pelotas teve representantes de Rio Grande, Bagé, Dom Pedrito, Porto Alegre, Caxias e Guaíba. A ONG Vale a Vida, que trabalha com a promoção e proteção dos direitos humanos, fica na rua Dom Pedro II, 1.066, e funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 18h.