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Piazzolla versus Piazzolla

Por Divulgação 16-01-2013 | 00:00:00

Por Joice Lima Mais de mil pessoas lotaram o Theatro Guarany, na segunda noite do 3ºFestival Internacional Sesc de Música, de Pelotas. Sentada na segunda fila, a vice-prefeita Paula Mascarenhas marcou presença, entre dezenas de músicos pelotenses, visitantes e comunidade em geral, todos apreciadores de música. Os desavisados, aqueles que foram para assistir "o show do neto do famoso compositor Astor Piazzolla" (1921-1992) e desconheciam a proposta do grupo argentino Escalandrum, pareciam surpresos, alguns diriam que "chocados", logo no início do espetáculo. Afinal era tango ou jazz? Justamente. Era tango. E era jazz. Repetia-se, assim, com o neto, a sina do avô. Ao menos no princípio... Piazzolla avô foi muito criticado pelos tocadores de tango mais conservadores da Argentina pelas suas propostas inovadoras no ritmo, no timbre e na harmonia. Muitos diziam que o que ele fazia não era tango. Ele não se importava. Se era preciso rotular, dizia que era música contemporânea. Depois que ele esteve em Nova Iorque, as composições passaram a conter uma forte influência do jazz. Com Daniel "Pipi", Piazzolla neto, o caminho foi inverso. Ele integra o grupo de jazz Escalandrum desde 1999 e foi só em 2011, para homenagear os 90 anos do nascimento do avô, que decidiram gravar um disco com o consagrado repertório de Piazzolla. Jazz e tango de mãos dadas. Mas o grupo não se contentou em apenas reproduzir as famosas canções. Desta vez os papéis se invertiam. O jazz prevalecia. As canções que compõem o CD Piazzolla plays Piazzola foram inundando, uma a uma, o Theatro Guarany, e envolvendo, encantando - como por mágica - a plateia. Lunfardo; Buenos Aires Hora Cero; Vayamos al Diablo; Oblivion; Tanguedia, Fuga 9; Escualo; Romance del Diablo; Milonga del Angel (outra conhecida dos fãs, que não está no CD) e, talvez a mais popular entre as composições do argentino, Libertango. Todas com arranjos ousados e repletas de sessões de improvisação - uma das mais fortes características do jazz. Conduzindo o espetáculo, como um mestre de cerimônias, "Pipi", na bateria, ia introduzindo as composições do avô, com breves comentários, explicando a origem e os temas das canções, e apresentando os músicos, amigos seus antes mesmo de serem colegas de palco. Gustavo Musso no sax alto e soprano; Damián Fogiel no sax tenor; Mariano Sivori no contrabaixo; Nicolás Guerschberg no piano e Martín Pantyrer no sax barítono e clarinete baixo. Talvez pelo vínculo de amizade de anos entre eles, o caso é que a afinidade se exprimia no palco e, apesar de todos os improvisos (propositais, obviamente), o sexteto mostrava uma coesão extraordinária. Seis em um. Um show de profissionalismo e qualidade artística. Visceral, orgânico, bonito de ouvir. A plateia captou, vibrou, aplaudiu com entusiasmo, pediu mais. O bis veio com Adiós Nonino, outra das mais populares de Piazzolla, que ele compôs para homenagear o pai, quando este estava morrendo. Chave de ouro. "Me sinto flutuando, de tão maravilhosa", ouvi dizer uma mulher, enquanto saía do teatro. Talvez a frase não estivesse bem construída, mas certamente era perfeita para expressar o sentimento de muitas pessoas que estiveram no Theatro Guarany na noite de 15 de janeiro de 2013. Uma daquelas noites que devem ficar na memória, na gaveta dos momentos doces. Escalandrum foi um escândalo, no bom sentido. Escalou a resistência inicial de alguns. Um privilégio para Pelotas tê-los aqui. Gracias, chicos. *Colaboração de Eugênio Bassi.

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